TESES SOBRE A RAZÃO E OS HUMANOS

04-02-2017 17:43

I

Nem tudo o que é possível é preciso, mas tudo o que é preciso, de alguma maneira, acaba tornando-se possível. Seja mediante avanço, ou mediante retrocesso na história.

II

Disseram muitos poetas e romancistas do século XVIII, que o mundo até aquele momento havia vivido sob o tacão da lógica e da racionalidade, não podendo existir dessa maneira, um meio pelo qual os “sentimentos verdadeiros” das pessoas ganhassem vazão. Sendo assim, pensavam eles que, até então, toda a lógica produzida havia transformado os seres humanos em meros autômatos cumpridores de funções pré-programadas.

A partir desse ponto, e com essas premissas, é que o Romantismo emergiu como movimento literário e artístico.

A rejeição da lógica e da racionalidade proporcionou-lhes viverem suas vidas a suas modas, “reprogramadas” para estarem em desacordo total com a vida burguesa e capitalista cada vez mais influente na maneira e pensar da sociedade. Um elemento foi associado ao outro, capitalismo burguês, uma vez dominante, foi considerado o artífice principal de todo aquele monopólio exercido perante o caráter dos indivíduos, e sendo este a origem da opressão, precisava ser freado e dominado, ou senão, na hipótese mais extremista, extinguido e exterminado definitivamente, tornando assim, a vida mais artística e mais bela, sem o domínio do burguês com sua cultura e que impõe sua lógica.

Foi neste contexto hostil, confuso e inebriante, que a juventude dos românticos ganhou o poder social de tomar decisões acerca das próprias vontades, ou seja, tomar qualquer decisão sobre qualquer assunto, incluindo se era necessário ou não manter a razão e lógica erguidas, já que estas foram consideradas meras manifestações do pensamento humano, talvez de segunda categoria.

Como apresentado no parágrafo anterior, pode-se perceber que esse contexto foi muito influente no que diz respeito ao caráter das pessoas em geral. Todos os que aderiram ao Romantismo mudaram radicalmente seus modos anteriores de pensar e se comportar, em nome da busca pelos “verdadeiros sentimentos”. Isso soa muito familiar, pois apesar dessa ser uma realidade do final do século XVIII e início do XIX, observa-se sua repercussão no que nos dias atuais, chama-se vulgarmente da dita “cultura jovem”. Ela ganhou vazão no cenário globalizado, tornando-se foco do comércio mundial e fonte de renda para muitas empresas (que não por acaso são capitalistas, usam a lógica monetária do “ganhar cada vez mais” e deleitam-se com os frutos das quimeras de jovens embriagados, levando-nos a concluir que estas empresas “opressoras” nunca conseguiram ser derrotadas, pois pelo visto nunca foram inimigas, mas eternas aliadas).

Foi também por causa desse contexto que as superstições, os mistérios “ocultos”, todas as fantasias da imaginação do homem, fossem elas fúnebres ou idílios aspirando um “mundo” mais “belo”, puderam emergir das “sombras” onde permaneceram inquietas por muitos séculos. O paganismo mitológico da Antiguidade retornou para substituir o cristianismo monoteísta, considerado propriedade burguesa; os sentimentos, as fantasias irracionais, a estética do belo herdada do grego antigo, retornaram para compor o novo cenário que viria a surgir com a ambição de homogeneizar-se por toda a Europa.

No que diz respeito à religião, percebe-se que os românticos não empreenderam uma reforma e critica suficientemente significativa, a ponto de terem sido capazes de romper definitivamente com o ideal da existência de uma divindade. Pelo contrário, descentralizaram apenas a figura de um único Deus para recriar vários outros que já haviam sido mencionados pelo menos uma vez na história de suas mitologias. Esses senhores, os “donos da verdade maior e mais importante”, equivocaram-se ao pensar que poderiam curar religião com mais religião. Neste caso, usando esse raciocínio, é como se fosse possível curar malária com mais malária. Simplesmente, em ambos o casos, o resultado é a morte generalizada da humanidade.

Voltando a falar da “cultura jovem”, apreciada hoje de forma explícita por todos os lugares aonde se vai, percebe-se ainda outro fator integrante: o “ser desvairado como premissa maior”. A individualidade, obviamente, precisava ser levada em consideração, mas o que estes senhores não compreenderam foi que transformar a loucura e falta de racionalidade em estilo de vida é um erro crasso. E inevitavelmente não fizeram nada além de repetir os mesmos princípios dos ideais dos burgueses, de transformar o monoteísmo em crença universal amparada pelo dinheiro, claro!

É preciso pensar minuciosamente! Não é favorável complicar as inferências, para depois colocá-las em prática, pois assim, estas tornar-se-ão impraticáveis e cada vez menos objetivantes. Simplificá-las seria uma possibilidade, mas isso é necessário, sem esquecer-se da razão, caso contrário, estaremos retrocedendo ao Romantismo, e recomeçando o que nem mesmo findou-se!

A “cultura jovem” é falaciosa, irracional, sem originalidade, fugaz, contraditória, destrutiva e funesta, mas acima de tudo, como forma de lucro para as “monstruosas empresas capitalistas”, um ótimo método lógico de manipulação (e olha que os jovens se dizem pessoas que definitivamente não são dominados por ninguém... Ou na verdade são por qualquer um!). Os adeptos dessa ideologia colocam cordas nos próprios pescoços, da mesma maneira que o povo alemão colocou quando apoiou o nazismo sem refletir sobre as suas consequências, sem questionar e sem criticar. Ao longo da história, no ontem e no hoje, perguntas deixam de ser feitas. Logo, decisões deixam de ser tomadas.        

  

Autor: Engel

Engel é um pensador! Um “pensador autônomo” e não “autômato”. O que isso significa? É óbvio que todos nós, humanos e seres sociais, somos influenciados pela história e pelo meio em que vivemos e, também, influenciamos diretamente nele. O que, por si só, coloca em dúvida a questão da “autonomia de pensamento”. Pois bem. A expressão “pensador autônomo” é aqui utilizada para enfatizar que Engel procura fugir (Se possível.) da superficialidade das “ideias verdadeiras”, investigando-as, contextualizando-as e refletindo sobre a originalidade e o impacto delas nos tempos atuais, à revelia do que há de hegemônico no mundo contemporâneo: o “pensamento autômato”, com absorção e reprodução sem a devida contestação. É a esse rigor de produção de conhecimento que se propõe o jovem intelectual provocador.

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