CONSIDERAÇÕES ACERCA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO SOBRE O SEXO

12-04-2015 21:48

Fui aproveitar um “saldão” de livros que tinha numa livraria na Av. Paulista, famosa por concentrar a classe alta da academia paulista, e me deparo com uma quantidade absurda de verborragias impressas sobre o “sexo”. E tomando como aprendizado os diálogos profundos com uma Mulher muito especial na minha vida e, à qual sou eternamente grato pelos ensinamentos diários, decidi escrever essa crônica.

Tem uma frase de Karl Marx e Friedrich Engels célebre para iniciar esse texto. Está no início da obra “A ideologia alemã”, marcando o pensamento ocidental desde então. A frase é: “As ideias dominantes de uma época, são as ideias da classe dominante”. Em toda sociedade a classe que domina os meios de produção e reprodução da vida material concreta, também detém a hegemonia do pensamento de uma época histórica. E é assim com a sociedade capitalista, desde o século XIX, quando Marx e Engels escreveram suas obras, seja nos dias atuais, no princípio de um milênio de incertezas.

Portando, toda atividade de pensamento tem ligação com a vida material dos homens em sociedade. É ontológico (da essência do ser, no caso, ser humano), não podendo existir separadamente, como se tivesse vida autônoma. No entanto, no século XX, basicamente a partir dos escritos de outro alemão, Friedrich Nietzsche, o pensamento, a abstração tomou forma própria, deslocando da vida material, caracterizando e, muitas vezes, embasando toda irracionalidade humana que permeou no mundo (justificativa intelectual para a banalidade humana contemporânea). Sei que muitos discordarão da linha de raciocínio que enfatizo, no entanto, espero que entendam a essencialidade do tema e da abordagem, não se perdendo na superficialidade da “cegueira das aparências”.

Esse breve comentário introdutório se faz necessário ao analisar a verborragia acadêmica contemporânea sobre o sexo, principalmente a alta abordagem filosófica sobre o assunto, pois, quando se trata da apologia ao sexo dos cantores da cultura do funk, muitas pessoas são as primeiras a reivindicar, “atirar as pedras” (Como se houvessem santos no mundo!!), porque eles tratam a mulher como objeto sexual (Não digo que isso não haja!!). Porém, quando se refere à cultura acadêmica (não estou falando dos best-sellers eróticos, ainda) e a todos os escritos que apontam o sexo como temática central, o tratamento muda-se de figura. Toda essa filosofia do sexo é vista como da alta academia, abordando temas acessórios, como práticas sociais, fetiches, psicanálise do erotismo, etc. Há nisso um preconceito de classe, o que é cultura erudita da classe dominante, qualquer “lixo” serve e é endeusado, todavia, quando se trata da cultura popular da classe pobre o “lixo” é visto apenas como tal, lixo.

Com isso, o que quero é provocar a discussão de dois pontos. Primeiro, seja no Funk, na TV, nos best-sellers estilo “cinquenta tons de cinza”, por exemplo, ou no mais elaborado pensamento filosófico, a mulher é referida comumente como objeto sexual, uma mercadoria. Segundo, e esse é mais problemático porque diz respeito a um fenômeno social complexo (caldo cultural) do nosso tempo, volto à abordagem do início. Aparentemente as ideias, o pensamento irracional, adquiriu vida própria na modernidade, principalmente, naquilo que se convencionou chamar de “pós-modernidade”. No entanto, tendo um olhar mais atento, se verifica que, na essência, essa suposta autonomia do pensamento é ilusória e, na verdade, essa “moda acadêmica do sexo” é reflexo, muitas vezes, de uma vida sexual frustrada, pois se não é vivida na sua plenitude, ela tem que ser pensada, reificada. E, o que é pior, reflete a banalidade humana do nosso tempo histórico. Fazem elucubrações mentais sobre o sexo, mas no fundo, muitas pessoas, atualmente, são frustradas sexualmente, buscando sanar, mediante atividades do pensamento, aquilo que elas não têm na sua vida real concreta.

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