CRÔNICAS DE VIAGEM - #EP01 - SÃO PAULO: A CIDADE VICIANTE

29-07-2021 19:08

Maaanooo... O que dizer dessa cidade, véio? Se é louco. Mó fita... O baguio é embaçado, mas vamos lá...

São Paulo, a cidade que foi “fundada” pela missão jesuítica – braço evangelizador dos portugueses, responsável pelo genocídio cultural e religioso desses povos, nas palavras do antropólogo Darcy Ribeiro no libro “O povo brasileiro” -, tendo como um dos líderes o padre José de Anchieta, completou, em 2021, 467 anos de existência. A foto abaixo é o principal marco dessa fundação, localizada na região central. Cidade que se orgulha de ter uma “alma italiana”, mas que se esquece da sua “alma indígena”, como nos ensina o pesquisador Carlos José Ferreira dos Santos (O indígena Casé), no livro “Nem tudo era italiano: São Paulo e pobreza, 1890 – 1915”.

Cidade que, durante o século XX, cresceu desordenadamente “enterrando” os seus rios até virarem córregos, concentrou o processo de industrialização e modernização do Brasil, incentivando pessoas de vários lugares do país e do mundo a “virem para cá para ganharem a vida”; transformou-se na maior cidade da américa latina. Isso está tão enraizado no imaginário cultural do brasileiro, que São Paulo é vista como a capital do trabalho, dos negócios e dos grandes eventos. E os moradores dela, os paulistanos (Quem nasce no Estado de São Paulo é paulista. E quem nasce na cidade de São Paulo é paulistano/a.), são os “workaholics da nação”, os viciados no trabalho que “só andam correndo para cima e para baixo, nunca tendo tempo ‘para perder’”; onde tudo tem que virar investimento em uma start up. Os “fariamilmers” existem para comprovar essa ideia...

Esse “lance” é a mais pura verdade, parça. Só que SP não é apenas isso. Existem inúmeras desigualdades e problemas sociais criados pela “violência do progresso”, nas palavras do maior cronista musical de São Paulo, o compositor e cantor Adoniran Barbosa? SIM!!! Mas não somente...

Aqui vive uma galera que luta para sobreviver, “ganhando o pão de cada dia”, respirando um ar poluído e enfrentando um trânsito infernal, seja no transporte público ou nos automóveis, mas que nunca perde a esperança e o instinto festeiro, mesmo embrenhada pela lógica individualista, a marca ideológica do sistema capitalista. Um exemplo da correria diária dos paulistanos. As escadas e esteiras rolantes dos metrôs e terminais foram construídas para “andarem por nós”. Mas, não... Em SP, se você não deixar “a esquerda livre” nas escadas rolantes do metrô, é certeza que tu serás xingado, truta, quando não atropelado, ou os dois. O “baguio” é insano! Mas é dessa forma que se estabelece a sociabilidade paulistana.

De tanto respirar monóxido de carbono, os paulistanos se tornaram mutantes, ao ponto de, em muitos casos, naturalizarem certos absurdos humanos como a pobreza, a fome ou o correr nas escadas rolantes. Porém, essa mutação permite defender o que para muitos é indefensável: a própria cidade de São Paulo. “Nóis sofre, mas nóis gosta...”

“Não existe amor em SP”. Essa frase do cantor Criolo é uma denúncia social. Uma intervenção artística que nos faz prestar atenção para aquilo que, antes, não prestávamos e, com isso, nos questionamos: Será que existe amor em SP? Sim, existe!

A beleza está onde menos se espera. “Alguma coisa acontece no meu coração...”. Quem não ouviu ao menos uma vez na vida esse trecho da canção “Sampa”, de Caetano Veloso? Outro trecho, talvez pouco conhecido para alguns, é de uma canção do Tom Zé, chamada “São, São Paulo”: “São, São Paulo, meu amor... São, São Paulo, quanta dor...”

Quanta beleza há na dor? A cidade de São Paulo é isso. Dor e glória. Amor e ódio. Vício e cura.

Para mim, SP é viciante. Não vejo a hora de sair fora dela, mas, longe, não vejo a hora de retornar.

“São Paulo: viajo porque preciso, volto porque te amo”.

 

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