O CARNAVAL DA COVID-19

20-02-2022 23:27

Como será o carnaval brasileiro de 2022 e os seguintes, após os fatídicos anos da pandemia de covid-19?

No prólogo (apresentação) O carnaval da guerra e da gripe, ao livro, Metrópole à beira mar: o Rio moderno dos anos 20, o escritor e cronista Ruy Castro nos dá um indicativo de como poderá ser o carnaval dos próximos anos, ao analisar como a cidade do Rio de Janeiro, à época capital federal e ícone da modernidade artística brasileira, curtiu o carnaval de 1919, após o fim da primeira guerra mundial (1914 - 1918) e durante a "gripe espanhola" - que originou-se, pasmem leitores, nos EUA -, entre 1918 - 1920.

O autor conta que, mesmo com as autoridades oficiais pedindo para as pessoas não brincarem o carnaval, seja nas ruas ou nos clubes, evitando, assim, aglomerações, os cariocas pouco se importaram. O diretor de saúde pública, Dr. Theophilo Torres, no jornal "Correio da manhã" de 23 de fevereiro de 1919, aconselhou "a que 'cada um evitasse as aglomerações' e exortou os foliões a se pouparem de 'circunstâncias que quebram a resistência do organismo e favorecem a invasão da gripe, como resfriamentos, indigestões e bebidas alcoólicas'". Diante disso, alguns afirmavam: "E se esse for o último carnaval da minha vida?"

No entanto, a gripe espanhola não passou despercebida na vida dos foliões cariocas. Basta ver as "marchinhas de carnaval":

"Quem não morreu na Espanhola/ quem dela pôde escapar/ não dê mais tratos à bola/ toca a rir, toca a brincar./ Vai o prazer aos confins/ remexe-se a terra inteira/ ao som vivaz dos clarins/ ao ronco do Zé Pereira./ Há alegrias à ufa/ e em se tocando a brincar/ nem este calor de estufa/ nos chega a preocupar./ Tenho por cetro um chocalho/ por trono um bombo de rufo/ o Deus Momo, louco e bufo/ vai começar a reinar".

Ou:

"A Espanhola está aí/ A Espanhola está aí/ A coisa não está brincadeira/ Quem tiver medo de morrer/ Não venha mais à Penha".

 

E foi assim, com muito bom-humor, lança-perfume, confete e serpentina, que os cariocas brincaram o carnaval da gripe e o primeiro após o fim da primeira guerra mundial, fazendo do carnaval de 1919 o mais esplêndido, até então. Durante a ressaca de carnaval, estranhamente, a cidade do Rio de Janeiro não registrou nenhum caso de gripe...

 

Como brincaremos os próximos carnavais? Fica a reflexão à luz do passado.

 

Prólogo: "O carnaval da guerra e da gripe". (E-book gratuito abaixo)

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Livro: "A metrópole à beira mar: o Rio moderno dos anos 20"

Ano: 2019

Editora: Companhia das letras

 

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