OS RISCOS PARA O PAÍS DA AVENTURA BOLSONARO

25-10-2018 03:08

Antes de mais nada, faz-se necessário salientar. Este texto tem como único objetivo alertar. Há menos de quatro dias para o segundo turno das eleições presidenciais, o alerta é direcionado para os eleitores de Jair Bolsonaro e, principalmente para os eleitores que ainda estão indecisos em quem votar, ou até mesmo, em não votar e os riscos que estamos correndo na aposta no escuro que este candidato significa.

O candidato à presidência pelo PSL (Partido Social Liberal) representa, como retratado no livro organizado pela socióloga Esther Solano, “Ódio como política”, de 2018, pautas conservadoras e moralizantes nos costumes e liberais na economia; isso marca o ressurgimento de um tipo de direita raivosa e radical no cenário político brasileiro. E o que está em jogo com a sua possível eleição? Inúmeras pessoas de diversos segmentos da sociedade brasileira e do mundo, já fizeram advertências sobre o caráter retrógrado e prejudicial para o país caso ele saia vitorioso do pleito de domingo agora, seja nas pautas de convívio em sociedade, seja na pauta econômica. Portanto, é no terreno da economia que concentrarei a análise.

O Golpe jurídico-parlamentar com apoio da mídia tradicional e de setores civis em 2016, por alguns denominado de impeachment, denotou no terreno da economia uma mudança brusca na rota que o Brasil vinha tendo durante os governos petistas, de cunho progressistas (Grosso modo, eram políticas de bem-estar social, na qual o PIB do país se elevou, gerando riquezas para grandes empresários, lucros para bancos e, na parte debaixo da pirâmide social, um aumento real do salário mínimo e poder de consumo). Qual foi essa mudança de rota na economia? Originalmente foi o documento do MDB, que tinha como vice-presidente de Dilma Rousseff, Michel Temer, intitulado “Uma ponte para o futuro” que apontava para políticas de austeridade, como reformas tributárias, previdenciárias, trabalhistas, etc.... Ou seja, reformas “ultra-neoliberais” de austeridade, diminuindo o poder de atuação do Estado brasileiro na sociedade e na economia. Pois bem, a não aceitação da presidente Dilma das orientações do programa, representou o elemento-chave para a sua deposição, como afirmou recentemente Temer num pronunciamento à imprensa. (Ver mais nas referências abaixo)

No seu último discurso como presidente da república, Dilma alertou para o fato de que os arquitetos e apoiadores do Golpe de 2016 defendiam um modelo de se fazer política no Brasil e de reger a economia que foi rejeitado pelas urnas em 2014. Ela e o PT foram ainda mais incisivos no alerta. O novo governo de Temer implantaria esse tipo de política com cortes drásticos ao investimento público, cortes em direitos da população, como os trabalhistas por exemplo.

Se o que faltava para os defensores do aprofundamento do neoliberalismo no Brasil era de apoio popular e a chancela do voto, isso acabou com a ascensão política da nova direita liderada pelo deputado federal pelo Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro. A sua possível eleição como presidente da república (Este ensaísta luta para que não.) legitimaria, mediante a confiança da maioria dos votos válidos, o aprofundamento das reformas neoliberais do governo ilegítimo de Temer. Sendo assim, elegendo Bolsonaro no domingo, 28/10, estaremos, no campo econômico e social, aprovando a continuidade piorada do governo atual que já deu mostras do quanto está disposto a cortar direitos da população para alimentar banqueiros, através do pagamento de juros da dívida pública (Ver mais nas referências abaixo).

A personagem central dessa trama não é a figura caricata, o “meme ambulante” de Bolsonaro, mas sim do seu “guru” na área econômica, por ele chamado de “posto Ipiranga”, Paulo Guedes. Guedes é um economista formado na Escola de Chicago, uma das mais conceituadas do mundo pelo mercado, um “Chicago boy”, conhecido por suas ideias liberais radicais na economia, sempre “pró mercado financeiro” e “contra o Estado/ Governo”, e que logo caiu nas graças da nova direita ludibriada pelo canto da sereia do “libertarianismo”.

Ora, por que seria um risco para o país a aplicação de “ideias modernas e liberalizantes”, que dão “ênfase ao indivíduo empreendedor” contra o “Estado opressor” que esmaga com impostos abusivos e tira a “capacidade do coitadinho do empresário de produzir”? O professor Gilberto Maringoni (UFABC), no livro “Resgatar o Brasil”, de 2018, afirma que o que está por detrás do documento “Uma ponte para o futuro” e na aplicação do mesmo sem medida por Paulo Guedes, caso Bolsonaro vença as eleições, é a reinserção subordinada do Brasil na divisão internacional do trabalho (DIT), no contexto da mudança que está ocorrendo dentro da cadeia produtiva global do capitalismo, a chamada “Quarta revolução industrial” ou “Indústria 4.0”, com o avanço da inteligência artificial e robótica na produção de mercadorias (Ver mais nas referências abaixo). Disso decorre o ataque constante aos direitos trabalhistas e previdenciários, pois se refere diretamente ao “custo-trabalho” que tanto o empregador reclama. Isto ajuda a explicar a adesão de muitos empresários à candidatura de Bolsonaro.

Outros riscos que há neste tipo de política econômica que Temer e Bolsonaro/Guedes representam, é o subemprego, a exploração da classe trabalhadora, o desemprego e o consequente empobrecimento da população. Mas como isso? A Europa do século XX e o Brasil da primeira metade do século XXI, dentre outros exemplos, provaram, tendo como base uma “política econômica keynesiana” (Chamada a “época de ouro do capitalismo”), que o elemento gerador de empregos e consumo é o “capital produtivo” (Ciclo: Produção-Renda-Consumo); e não o “capital improdutivo” (financeiro), no qual o dinheiro tem a função de alimentar o mercado financeiro apenas (dinheiro que gera dinheiro). Em outras palavras, o mercado financeiro, defendido sob “quatro patas” por estes candidatos não tem nenhum compromisso com a geração de empregos e renda no país, função essa do capital produtivo, setores que efetivamente geram empregos e produzem mercadorias e serviços. Por isso, que o candidato do PT (Partido dos trabalhadores), Fernando Haddad, afirmou recentemente que os empresários que apoiam o outro candidato pertencem a uma “elite desalmada”, “anti-povo” por embarcarem na aventura Bolsonaro.

Por fim, este ensaio procurou destacar alguns pontos dos riscos para o país que representa a candidatura de Jair Bolsonaro, principalmente no campo econômico que está sendo escondido por ele perante a cortina de fumaça moralizante. Não tive a pretensão de esgotar o assunto e estou aberto a debates, pois ainda tem jogo até o próximo domingo.

Deixarei um vídeo abaixo com um trecho de uma palestra do professor da USP (Universidade de São Paulo), o filósofo Vladimir Safatle.

 

#HaddadPresidente          #Haddad13          #Rumoavirada

 

Referências

- Auditoria da dívida pública (Auditoria Cidadã):

auditoriacidada.org.br/

- Documento “Uma ponte para o futuro”:

www.fundacaoulysses.org.br/wp-content/uploads/2016/11/UMA-PONTE-PARA-O-FUTURO.pdf

- Entrevista de Fernando Haddad alertando os empresários que apoiam Bolsonaro:

www.youtube.com/watch?v=XvROxOx_q7k

- Entrevista de Michel Temer revelando o motivo do Golpe de 2016:

www.youtube.com/watch?v=6nrgPlJUv-A

- Sobre a “Indústria 4.0”:

professorkassiano.webnode.com.br/news/forum-economico-mundial-e-a-quarta-revolucao-industrial/

- SOUZA, Jessé & VALIM, Rafael. (Org.) Resgatar o Brasil. Boitempo Editorial e Editora Contracorrente.

- SOLANO, Esther. (Org.) Ódio como política. Boitempo Editorial.

 

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