RESENHA DO LIVRO: O ENCONTRO MARCADO – FERNANDO SABINO

17-07-2017 18:51

A literatura é uma das artes mais íntimas de um povo. Aquela com a qual podemos estabelecer um diálogo constante a cada frase lida, criar cenários imaginativos, sofrer com os destinos dos personagens, etc... Todos nós temos algum livro, ou livros, escritor, ou escritores que marcaram nossas vidas, seja por uma determinada época ou pela vida inteira, ajudando-nos a construir o alicerce da nossa identidade individual.

No meu caso, tenho escritores(as) prediletos(as) com os quais aprendi e aprendo continuamente sobre diversas questões humanas e sociais. Costumo afirmar que para um indivíduo entender a forma como se davam as relações humanas numa determinada época, para saber como as pessoas viviam e no que pensavam, a literatura juntamente com a música são dois exemplos fundamentais para tal, pois possibilita acessar o imaginário coletivo de uma sociedade. Senti-me assim ao ler recentemente o livro O encontro marcado, do escritor mineiro Fernando Sabino (1923 – 2004).

Publicado originalmente em 1956, o livro é o primeiro romance de Sabino. Nele o autor – da mesma forma com a qual o escritor peruano Mario Vargas Llosa faz posteriormente no seu livro Conversa na Catedral, de 1969, ao se referir sobre a vida no Peru – retrata o drama de uma geração, da sua geração de escritores brasileiros, ao ponto de críticos se referirem ao livro como um “romance autobiográfico” de Sabino e da geração que ele representa. Organizado em torno de Eduardo Marciano, personagem principal da trama, a história está dividida em duas partes: A procura e O encontro. Nela vemos o desafio individual de um ser diante da inexorabilidade da vida. Marciano “vive muito rápido a vida”, como lhe disseram seus pais (Dona Estefânia e Seu Marciano) na cerimônia de casamento do filho com a carioca Antonieta, filha de um ministro. Nunca estava contente com nada. Vivia à procura de algo, mas não sabia ao certo o que era. Procurou tanto que não viveu. Não conseguiu ser, de fato, nada daquilo que pretendeu ser. Viveu sempre na expectativa daquilo que poderia ter sido. E o encontro? Eduardo Marciano caminhou pela vida na esperança de um encontro que nunca ocorreu. Viveu na procura de algo exterior que completasse o seu vazio interior, porém, esqueceu-se do encontro marcado consigo mesmo. O encontro do qual não há como fugir. Uma hora, numa das inúmeras bifurcações da vida, esse encontro ocorrerá.

Esse drama individual do personagem Eduardo Marciano é utilizado por Fernando Sabino para exemplificar a geração de jornalistas, cronistas e escritores da qual fazia parte. Os dilemas de uma juventude formada na corrente filosófica do existencialismo europeu, principalmente do filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), procurando liberdade intelectual durante o regime político do Estado Novo de Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945.

Um livro que vale a pena ser lido por todos aqueles que lutam para serem.

 

Referência

Livro: O encontro marcado

Autor: Fernando Sabino

Assunto: Literatura brasileira (Romance)

Idioma: Português

Ano: 2014

Editora: Record

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